14/09/2015

Crítica - O Pequeno Príncipe

Lançamento: 20 de agosto de 2015 (1h46min)
Dirigido por: Mark Osborne
Gênero: Animação
Nacionalidade: França
Redescubra a história mais amada de todos os tempos.

Adaptações podem ser fiéis aos livros que lhe deram vida e/ou podem ter lá suas liberdades criativas (coisa que pode ou não prejudicar a história) e essas dúvidas (poucas vezes sanadas pelo material promocional) são responsáveis pelo sentimento de incerteza que nos acomete até a data de estreia, ou até a primeiras críticas surgirem. Mas hoje não estamos falando de uma adaptação qualquer, e sim de uma das histórias mais adoradas de todos os tempos, livro de cabeceira da Miss Brasil, responsável por ofuscar o sucesso dos demais livros do autor que lhe criou (Exupery) e monopólio de livro mais traduzido do mundo. O Pequeno Príncipe do diretor Mark Osbourne, porém, não se acanha e opta pelos dois lados. Isso prejudica a história? Em parte sim, em parte não.
“Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, ‘Histórias Vividas’, uma imponente gravura. Representava ela uma jiboia que engolia uma fera...” É com essas palavras que o filme começa, em meio a animações das aquarelas originais do autor e uma narração que cobre todo o primeiro capítulo do livro (!) de forma fiel (!!) e delicada (!!!). Ponto para Mark Osborne pela ótima introdução!


O Pequeno Príncipe é dividido em três partes: A história da Pequena Menina (a qual jamais tem seu nome revelado), a do Pequeno Príncipe e o Clímax.
Na primeira delas – avulsa ao livro – conhecemos a Pequena Menina, uma personagem carismática que é obrigada por sua mãe workaholic a estudar o verão inteiro para entrar em uma conceituada escola. Ao se mudar para um novo bairro, ela logo conhece O Aviador (narrador do livro, agora um idoso), seu vizinho, que irá lhe contar a história do Pequeno Príncipe e ensinar todas as lições que aprendemos como leitores, tudo isso regado à uma amizade  que beira a igualdade daquela que o Pequeno Príncipe compartilhou com a Raposa.
Adorei essa história. A estética impressiona, não tanto quanto a da segunda parte, mas tem seus méritos, principalmente pela mudança brusca nos tons e formas das coisas. No mundo em que a garota vive com a mãe tudo parece cinza e quadrado, nada agradável ou convidativo para uma criança, mas lá no mundinho do Aviador vemos gambiarras das mais diferentes cores e formas. O melhor da primeira parte, porém, é a forma como esta história é intercalada com a do Pequeno Príncipe, em ordem cronológica. As lições são as mesmas, mas inseridas para o nosso mundo de hoje: Não vemos smarthfones ou tablets, apesar disso a crítica QUER e CONSEGUE ser ouvida: A infância está se perdendo.


A segunda parte, e a melhor de todas, é a do Pequeno Príncipe. Provavelmente você já conhece esta história. O Aviador (anos antes, um jovem) cai no deserto com seu avião e encontra o Pequeno Príncipe que lhe pede para desenhar um carneiro... Fico sem palavras com o cuidado que o diretor teve para contar esta história (e não estou falando apenas em fidelidade. Existem cortes em relação ao livro, o que é triste, mas nada que prejudique de maneira drástica o segmento). A técnica de filmagem é de cair o queixo: Enquanto nas partes um e três temos um 3D convencional, nesta é inserida uma ténica de stop-motion que lembra figuras de livros Pop-Art (aquelas que saem do livro quando abertas). Também é nessas cenas que o 3D mais vale a pena, principalmente na questão de profundidade. Inclusive, deixo um adendo: Se for ao cinema, não espere imagens saltando da tela, aqui o 3D é modesto e nos faz emergir para o filme, não o contrário.


O melhor desta parte? É difícil falar. Aqui temos os momentos mais delicados e suaves do filme, ainda mais fortalecidos pelo embalado da doce trilha sonora de Hans Zimmer e Richard Harvey (mas isso é mérito do filme todo). Em suma, adorei as imagens, os momentos mais lúdicos e paradinhos (como o cativar da raposa e do Pequeno Príncipe) e a fidelidade com a qual o diretor criou os personagens; compare-os com as aquarelas presentes no livro, são de uma semelhança quase impecável.
Contudo, fiquei várias vezes me perguntando ao longo da exibição onde haviam ido parar cenas como a do Bêbado, do homem que acendia o lampião e o Geógrafo. Mais tarde eu descobri: Não foi desleixo do diretor, ele apenas pegou os personagens que lhe seriam úteis para a terceira parte.
E enfim chegamos à ela, a terceira parte do filme e, infelizmente, o momento em que tenho que bancar o chato. É aqui que as partes um e dois irão culminar e temos a mescla entre os dois mundos, numa espécie de sequência sutilmente equivocada. O filme se perde por aí. Há a tentativa de juntar todo o universo do livro em um só planeta, e, se incomoda, pelo menos serve de homenagem e reforço para as críticas e lições perpassadas ao desenrolar dos atos.


Porque não gostei? Uso a frase mais famosa do livro para justificar: O essencial é invisível os olhos. Preferia muito mais o final em aberto do livro do que este climax arriscado e longo. Resumindo: Queria mais tempo com o Pequeno Príncipe e menos com liberdades criativas. Contudo, espero mudar de ideia, afinal, não gostei de O Pequeno Príncipe na primeira vez que o li, mas na releitura acabou se tornando um dos meus preferidos. As vezes é assim, não?! Em certos momentos simplesmente não estamos no astral certo ou os probleminhas do dia-a-dia acabam deixando a nossa mente um pouquinho adulta demais. Sim, eu irei rever o filme, quem sabe em breve, e espero realmente mudar de opinião. 
Aliás, decidi não ser tão chato com a terceira parte justamente porque o próprio material promocional do filme não nos enganou. O slogan é preciso: Redescubra a história mais amada de todos os tempos. E foi assim mesmo que me senti ao fim da projeção, mas obviamente o filme não vai interferir na visão das minhas próximas releituras do livro, que com certeza virão, já que este é o tipo de livro que releio consecutivamente.
No momento, resta engolir o gostinho levemente amargo e decepcionante que o terceiro ato deixou e aproveitar e ver qualidade no filme como um todo. É claro que recomendo, é garantia da prometida experiência de redescoberta e, o mais importante, vale o ingresso, a pipoca e o 3D!

4/5

Trailer (dublado):

- Felipe Nunes

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