30/06/2015

Um garoto e sua alma

Os olhos do garoto flutuaram pelo quarto, dando por falta de objetos e o acréscimo de teias de aranha e poeira.
Sentou-se em sua cadeira de couro, de frente para a escrivaninha. Relembrou o tempo em que sentava-se ali, olhando para a velha máquina de escrever (que já não se encontrava no quarto) e escrevia qualquer pensamento e história que viesse a mente. As vezes, quando estava inspirado, roubava ideias até de seus sonhos – ou pesadelos.
Imaginou a fumaça do café que estaria ao seu lado. Uma xícara fumegante, negra como a noite, de onde a fumaça quente e adocicada subiria até formar círculos perfeitos no ar. Ele tomaria aos poucos, saboreando-o e permitindo que o gosto lhe trouxesse novas ideias.
Ele levanta, agora olhando para a cama e o guarda-roupa. A cama onde lera tantas vezes, onde dormira tantas vezes. O guarda-roupa que sempre o deixava zangado, em dúvida sobre o que vestir, e onde mantinha as roupas novas para a posterioridade. Ele não pôde usar muitas dessas roupas. E se arrepende disso.
O garoto contempla a estante de livros, abarrotada de cima a baixo. Lombadas amareladas, velhas e descascadas. Odiaria ver isso anos antes. E ainda odeia. Ele aspira o aroma da poeira, esperando alguma reação, mas seu corpo não sente mais nada.
Por fim, ele fecha os olhos e respira fundo. Ficará ali para sempre, apegado à matéria, em companhia da solidão. Antigamente alguma lágrima poderia emergir de seus olhos. Não mais... Está morto, e faz aquilo de que sempre tivera medo: Vive para assombrar as pessoas.

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Este é um conto curto, diferente da maioria dos que produzo, porém tenho outros tão sucintos quanto. Os postarei no blog, vez ou outra, pois também cobrirei livros e filmes. Espero que tenham gostado, até a próxima! ^^

- Felipe Nunes

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